Oficialmente, a primeira transmissão de rádio no Brasil aconteceu no dia 7 de setembro de 1922, durante a comemoração do centenário da Independência. Nessa data, foi veiculado o discurso do então presidente da República, Epitácio Pessoa. Ele estava no Rio de Janeiro e os aparelhos receptores instalados em Niterói, Petrópolis e São Paulo.
“À época, a fala de Epitácio foi transmitida pelas ondas do rádio, mas, como ainda não existiam aparelhos radiofônicos no país, as pessoas ouviram o mandatário por meio de alto-falantes instalados em postes e praças do Rio de Janeiro”, informa o professor Silvio Henrique Barbosa, do curso de Jornalismo da Universidade Federal do Piauí (UFPI).
Em Alagoas, a iniciativa pioneira do rádio em Alagoas aconteceu em 1925, quando Mário Marroquim, que viria a ser o primeiro diretor-geral da Rádio Difusora, e um grupo de idealistas alagoanos instalaram a primeira emissora em Maceió – Rádio Clube de Alagoas. "Como ninguém queria investir num negócio duvidoso, o empreendimento durou pouco tempo", conta o historiador Edberto Ticianeli.
“Somente em 1933 foi que Alagoas voltou a ter uma rádio. A ousadia foi dos eletrotécnicos Jacques Mesquita e Luiz Gonzaga, que fizeram funcionar uma pequena emissora, chamada Estação Experimental, na Rua Dois de Dezembro, Centro de Maceió, no primeiro andar da Farmácia Pasteur”, completa.
Com a popularização das rádios, a partir de 1940, os programas de auditórios se tornaram recorrentes nas emissoras brasileiras, principalmente os shows de calouros, que levaram à valorização dos artistas de rádio e à preocupação em apresentar ao vivo cantores e músicos internacionais, o que foi possível com o aproveitamento dos grandes nomes contratados pelos cassinos.
Essa corrida começou a ameaçar as emissoras; começaram a cobrar entrada para garantir o equilíbrio financeiro das rádios. “Os programas de auditório geravam seu fascínio pelas apresentações artísticas, pela oportunidade de as pessoas presentes serem captadas pelos microfones, dando a sensação de integrarem o auditório, e a atração que o Rio de Janeiro, como grande centro urbano, exercia no processo de ascensão social em áreas menos desenvolvidas do Brasil”, ressalta a historiadora Ana Paula Peters, especialista em História da Música pela Escola de Música e Belas Artes do Paraná (Embap).
Na Educativa FM de Alagoas, um programa fez o caminho inverso: em vez de sair do auditório e ir para o rádio, o Jazz Panorama - criado em 1986, pelo jazzófilo Juan Maurer - acabou saindo da rádio para os palcos. “Eu me tornei ouvinte ávido da rádio em função da programação de alta qualidade, algo inédito na radiodifusão alagoana na época”, lembra Maurer, que ofereceu a ideia da criação do programa ao então diretor da emissora, Nelson Ferreira.
Para criar o Jazz Panorama, o jazzófilo - de origem peruana e radicado no Brasil desde os anos 1970 - havia se inspirado em um programa de jazz produzido por Paulo Santos para a Rádio do Ministério da Educação (MEC) de Brasília, retransmitido pela Educativa FM de Alagoas. “Eu conhecia Nelson Ferreira, o diretor da Educativa naquela época, e tive a ideia de ligar para ele e sugerir que eu poderia produzir e apresentar um programa de jazz para a emissora”, relembra.
Depois de pedir que Maurer preparasse uma dezena de programas para avaliar a viabilidade do projeto – no que foi prontamente atendido –, Nelson Ferreira entrou em contato com ele e com o também jazzófilo alagoano Imanoel Caldas, profundo conhecedor desse estilo musical e dono de uma das discotecas mais completas e extensas no Brasil. “Isso ampliou imensamente as possibilidades de programação, pois o Imanoel passou a colaborar na produção e apresentação do programa”, diz.
Juan Maurer conta que o conceito central do Jazz Panorama é dirigir o programa para uma audiência que aprecia a música instrumental, mas que não tem familiaridade com o jazz. “Por isso os programas têm um caráter didático, com muitas informações que procuram contextualizar a música e os músicos destacados na programação”, explica.
O sucesso do programa foi tanto que a partir de 2018, o Clube do Jazz, um grupo de músicos de Maceió liderado pelo contrabaixista Félix Baigon, passou a promover um evento que já entrou para o calendário cultural de Maceió: o Jazz Panorama ao Vivo.
Foto Ramatis Haywanon
“O evento traz para o palco a mesma fórmula didática e o repertório de altíssima qualidade, já conhecidos e apreciados pelos fãs do programa no rádio”, conta o publicitário e coordenador do projeto Léo Villanova. “Nessas apresentações, clássicos e novos temas do jazz são executados pela banda do Clube do Jazz e convidados especiais, com informações dessas composições, autores e músicos trazidos ao público por Juan Maurer em pessoa”, completa.