Uma paciente espera há nove anos por uma cirurgia de reversão da colostomia na rede pública de saúde do Rio Grande do Norte, que deveria ter ocorrido apenas quatro meses após o procedimento, feito em 2016.
Nesse período, a dona de casa Leila Tavares, de 44 anos, desenvolveu um hérnia de disco, o que piorou a situação, impedindo o uso de bolsas de colostomia tradicionais.
? ENTENDA: O objetivo da colostomia é estabelecer uma via alternativa para a eliminação de fezes e gases. Essa abertura, chamada de estoma, permite que as fezes sejam eliminadas diretamente para uma bolsa coletora externa, evitando a passagem pelo reto e pelo ânus.
Alguns tipos de bolsa de colostomia, inclusive, acabaram na rede pública de saúde no mês de maio, o que gerou protesto dos pacientes na segunda-feira (9).
Sobre as bolsas, a Secretaria de Estado da Saúde Pública (Sesap) informou, em nota, que elas foram entregues até abril e em maio alguns tipos faltaram na rede pública. A pasta informou que está finalizando um processo de compra dos materiais para regularizar as entregas o mais rápido possível.
Em relação à cirurgia, a Sesap informou que, em função da Lei de Garantia de Proteção de Dados, não pode mais passar informações.
Moradora do bairro Felipe Camarão, em Natal, Leila Tavares informou que não havia recebido nenhuma previsão para realizar a cirurgia.
A história começou em 2016, quando Leila Tavares precisou retirar um tumor na região abdominal. A colostomia foi indicada como medida temporária para permitir a cicatrização do local operado. O que era ter durado quatro meses completou nove anos.
Há cerca de três anos, a dona de casa ainda desenvolveu uma hérnia na região, o que impediu o uso de bolsas convencionais. Assim, passou a usar sacos plásticos, o que a fez temer um infecção.
A vida, segundo ela, ficou limitada desde que precisou realizar o procedimento.
“Eu me sinto excluída da sociedade, porque eu não tenho o convívio. A gente se sente envergonhado de estar no meio dos outros, aí suja, e a gente se sente desconfortável”, lamentou.
“Eu não saio daqui da minha casa, só saio se for para uma consulta, para um negócio, mas até para casa dos meus filhos eu me sinto sem vontade, eu não vou”, completou.
Mãe de quatro filhos e avó de nove netos, Leila relata que a condição limita até mesmo as tarefas mais simples do dia a dia. Cozinhar, caminhar ou lavar louça sem dor são coisas que viraram um desafio.
“Eu deixei de viver, porque numa situação dessa…Eu não vou dizer para você que eu vivo, porque eu não vivo. Eu me levanto porque tem que se levantar. A gente tem que correr atrás. Mas não é viver, meu filho, uma situação dessa, não”, disse.