O presidente afastado do Corinthians, Augusto Melo, ganhou as páginas policiais nos últimos dias após o indiciamento pelos crimes de lavagem de dinheiro, associação criminosa e furto.
A Polícia Civil encontrou irregularidades no contrato entre o clube e a casa de apostas VaideBet, além de descobrir o envolvimento com o Primeiro Comando da Capital (PCC).
O contrato foi assinado em dezembro de 2023, e previa o pagamento de R$ 360 milhões em três anos — o maior patrocínio máster da história do futebol brasileiro até aquele momento.
O Conselho Deliberativo do Corinthians aprovou na noite de segunda-feira (26) o afastamento de Augusto Melo da presidência, que é alvo de pedidos de impeachment no clube. A decisão ainda precisa ser referendada pelos sócios.
Augusto Melo é acusado de ter incluído um intermediário na negociação com a empresa de apostas com o objetivo de desviar recursos financeiros do clube. Segundo a polícia, os indícios apontam ainda que esse intermediário, na verdade, “não intermediou nada, o que era de conhecimento de Augusto Melo, como dos demais dirigentes”.
Além do presidente do clube, foram indiciados o ex-diretor administrativo do clube, Marcelo Mariano; o antigo superintendente de marketing corintiano, Sérgio Moura; e Alex Cassundé, dono da empresa responsável pela intermediação do contrato com a VaideBet.
De acordo com as investigações, eles acabaram enquadrados em três crimes: furto qualificado pelo abuso de confiança, associação criminosa e lavagem de dinheiro.
A partir do inquérito policial com os indiciamentos, o Ministério Público pode oferecer a denúncia, que será analisada por um juiz. Se a Justiça receber a denúncia, eles vão se tornar réus em processo penal.
Justiça de SP nega habeas corpus a Augusto Melo, presidente do Corinthians
Nesta matéria, o g1 explica as acusações contra Melo e como funciona o esquema criminoso.
Em maio do ano passado, a Polícia Civil deu início a uma investigação sobre a suspeita de participação de um “laranja” no repasse de parte da comissão pela intermediação do contrato de patrocínio entre Corinthians e VaideBet. O inquérito policial foi instaurado pelo Departamento de Polícia de Proteção à Cidadania.
Segundo apurado pelo ge, a Rede Social Media Design, empresa de Alex Cassundé (responsável pela intermediação do patrocínio), teria repassado parte do valor recebido da comissão para uma empresa “laranja” chamada Neoway Soluções Integradas em Serviços Ltda.
A Neoway, por sua vez, possuía como sócia uma empregada doméstica que vive em Peruíbe, no litoral sul paulista. A polícia não encontrou qualquer relação dela com o caso.
O relatório da polícia aponta que a Neoway é uma empresa fantasma. Além dela, outras três empresas que fazem parte do grupo criminoso também seriam de fachada: a ACJ Platform, a Thabs Soluções Integradas e a Carvalho Distribuidora.
Segundo a investigação, a Rede Social Media Design recebeu duas parcelas de R$ 700 mil, que totalizaram R$ 1,4 milhão.
Após a quebra do sigilo bancário, a Polícia Civil conseguiu descobrir que mais de R$ 1 milhão do valor recebido pela empresa de Alex Cassundé foi repassado para a empresa UJ Football Talent Intermediação Ltda — considerada um dos braços do PCC no mercado do futebol.
A UJ Football Talent é ligada a Danilo Lima de Oliveira, o “Tripa”, integrante da facção criminosa, segundo delação premiada que o empresário Vinicius Gritzbach deu ao Ministério Público. A defesa dele nega envolvimento de Danilo com o crime organizado.
Veja o caminho do para limpar o dinheiro, segundo informações do ge:
A investigação demonstrou que Alex Fernando André, vulgo Alex Cassundé, sócio da Rede Social Media Design, foi incluído para possibilitar que recursos financeiros do clube fossem ilegalmente desviados.
A inclusão de Cassundé no contrato, segundo a polícia, se deu graças “à atuação orquestrada e criminosa de Augusto Pereira de Melo, Marcelo Mariano dos Santos e Sérgio Lara Muzel de Moura, dirigentes corintianos que agiram em conluio — e meticulosamente — para afastar do negócio aqueles que realmente contribuíram para a sua existência”.
Os indícios apontam ainda que Cassundé não intermediou nada, o que era de conhecimento de Augusto Melo, como dos demais dirigentes, os quais ainda assim, concorreram “dolosamente para que ele, de maneira indevida, figurasse, através de sua empresa, no correlato contrato milionário firmado com a empresa de apostas.”
Em nota divulgada na semana passada, a defesa de Augusto Melo informou que “recebeu com incredulidade e indignação o relatório final do inquérito, divulgado na noite desta quarta-feira (22), e informa que fará suas considerações oficiais assim que concluir a análise integral do documento” e que “reitera-se a convicção de que o presidente não possui qualquer envolvimento com eventuais irregularidades relacionadas ao caso”.
O g1 tenta contato com os demais indiciados.
Gritzbach foi assassinado a tiros em novembro do ano passado, na saída do Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos. O empresário também havia acusado Tripa de participar do seu sequestro e de estar armado e ameaçar esquartejá-lo.
De acordo com a delação, em janeiro de 2022 Gritzbach foi levado por criminosos ligados ao PCC para um tribunal do crime no Tatuapé, Zona Leste de São Paulo.
Segundo Gritzbach delatou ao MP, “Tripa” é um agente de jogadores de futebol da série A do Campeonato Brasileiro e também cuida da carreira de atletas que jogam no futebol europeu.
Após quase um ano de investigações, a Polícia Civil produziu um relatório preliminar concluindo que R$ 1.074.150,00 dos R$ 1,4 milhão pagos pelo Corinthians na intermediação do contrato com a VaideBet foram transferidos para pelo menos quatro diferentes empresas, até chegar, por fim, à UJ Football, de Danilo Lima.
Segundo a delegacia, o Corinthians “foi vítima de um complexo esquema de lavagem de dinheiro que lesou os cofres do clube”.
Em nota emitida na manhã desta quinta-feira (15), o Corinthians disse que “é vítima das circunstâncias investigadas e reforça que não possui controle sobre o que terceiros fazem com valores recebidos em decorrência de contratos firmados”.
“A defesa do presidente Augusto Melo recebeu com incredulidade e indignação o relatório final do inquérito, divulgado na noite desta quarta-feira (22), e informa que fará suas considerações oficiais assim que concluir a análise integral do documento.
Reitera-se a convicção de que o presidente Augusto Melo não possui qualquer envolvimento com eventuais irregularidades relacionadas ao caso.
O presidente foi o responsável por viabilizar o maior contrato de patrocínio máster do futebol sul-americano, tendo recebido a proposta, encaminhado aos departamentos competentes e firmado o contrato com a aprovação de todos os setores envolvidos. Esse foi o único papel desempenhado por ele no processo.”
Confira íntegra da nota divulgada pelo clube na semana passada:
“O Sport Club Corinthians Paulista informa que, até o momento, não há qualquer demonstração de autoria relacionada aos fatos mencionados. O presidente do Clube reafirma seu total apoio às investigações em andamento, bem como a todas as iniciativas que visem apurar eventuais envolvimentos do crime organizado no futebol brasileiro.
O Corinthians destaca que é vítima das circunstâncias investigadas e reforça que não possui controle sobre o que terceiros fazem com valores recebidos em decorrência de contratos firmados. O Clube cumpre rigorosamente todas as suas obrigações legais e contratuais, prezando pela transparência e integridade em suas operações.
O Corinthians reitera seu compromisso com a transparência, a responsabilidade e a justiça no esporte, apoiando todas as medidas necessárias para garantir a lisura das competições e combater práticas ilícitas no futebol”.
“Em primeiro lugar, gostaríamos de pontuar que o lead da matéria publicada pelo ge.globo.com apresenta uma afirmação incorreta e extremamente danosa, ao afirmar de forma categórica que “o dinheiro de intermediação foi parar em empresa ligada ao PCC”. A UJ Football Talent não possui qualquer ligação com organizações criminosas e não é investigada por envolvimento com o crime organizado. A associação direta no título e no parágrafo inicial não apenas distorce os fatos, como representa um grave risco à reputação de uma empresa séria, que atua há anos no setor esportivo com responsabilidade e legalidade.
Com relação às novas informações mencionadas:
A UJ Football Talent confirma que recebeu, da empresa Wave, valores referentes à comissão pela intermediação da transferência do atleta Emerson Royal ao clube Barcelona. Trata-se de uma operação regular de mercado, devidamente contratada, declarada e documentada. A empresa não tinha, até então, qualquer conhecimento sobre suspeitas que envolvessem a origem desses recursos.
As movimentações bancárias tanto da UJ quanto do seu sócio, Ulisses de Souza Jorge, são lícitas, declaradas e compatíveis com a atuação da empresa no cenário esportivo nacional e internacional. Não há qualquer tipo de ocultação de patrimônio, evasão fiscal ou prática financeira irregular.
De fato, como informado, houve quebra de sigilo bancário no curso da investigação, da qual a empresa e seu sócio tomaram ciência de forma indireta, por meio da imprensa. Reiteramos, no entanto, que até o momento, nem a empresa nem seu sócio foram formalmente notificados como alvos de qualquer investigação criminal.
A movimentação mencionada na bolsa de valores, no valor de R$5.106.681,00, é referente a operações financeiras pessoais realizadas de forma legal, com recursos próprios e de origem comprovada, devidamente declarados à Receita Federal.
Reforçamos que a UJ Football Talent e o Sr. Ulisses Jorge estão à disposição das autoridades para quaisquer esclarecimentos e colaboram integralmente com o que for necessário.
Por fim, pedimos que o posicionamento acima seja considerado com o mesmo destaque dado às acusações infundadas, a fim de evitar ainda mais danos à imagem da empresa e de seu representante legal. Reservamo-nos o direito de tomar as medidas cabíveis, caso as distorções e associações indevidas persistam.”