Carlos Nealdo / Agência Alagoas
Janeiro de 1985. Um ofício enviado pelo Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de Alagoas ao então governador Divaldo Suruagy mudaria para sempre os rumos da comunicação pública em Alagoas. Aprovado por uma comissão composta pelos jornalistas José Osmando, José Otávio da Rocha, Juarez Ferreira, Régis Cavalcante e Valter Oliveira, o documento levou o chefe do Executivo a instituir um grupo de trabalho encarregado de elaborar estudos para a criação da Secretaria de Comunicação Social.
Até então, a comunicação do governo estadual era desenvolvida por uma Chefia de Imprensa com status de subsecretaria, vinculada ao Gabinete Civil. Instalado em um pequeno imóvel próximo ao Palácio Marechal Floriano Peixoto, no Centro de Maceió, o setor contava com poucos servidores e raros jornalistas. “Recebíamos matérias enviadas diretamente pelos órgãos estaduais localizados em Maceió. As entrevistas com o governador e os secretários tinham prioridade”, lembra José Alberto Costa, que chefiou a Subsecretaria de 1982 a 1984.
“As dificuldades eram muitas. Não havia orçamento para eventos ou equipamentos profissionais. Para coberturas fora da capital, contávamos com um carro já bastante usado e um único motorista”, recorda José Alberto.
O cenário precário foi debatido no Congresso Estadual dos Jornalistas realizado naquele mesmo mês. “Tivemos a oportunidade de analisar e debater o tema, chegando a conclusões voltadas ao aperfeiçoamento do sistema de comunicação pública, especialmente na esfera estadual”, dizia o ofício enviado ao governador.
Criação oficial
Quatro meses depois, no dia 9 de maio de 1985, a Lei nº 4.644 instituiu oficialmente a Secretaria de Comunicação Social (Secom) e criou as categorias funcionais que estruturariam o sistema de comunicação do Executivo. “Ficam criadas no Serviço Civil do Estado de Alagoas as categorias funcionais de redator, repórter, repórter fotográfico e diagramador”, previa a legislação.
Conforme noticiado pela Gazeta de Alagoas em 11 de maio de 1985, a nova estrutura previa um secretário de Estado à frente da pasta, com chefia de gabinete, assessoria jurídica e secretaria executiva, além de uma assessoria central de comunicação, que reuniria as coordenações de planejamento, divulgação, publicidade e propaganda.
Primeira posse
Seis dias após a criação da Secom, o governador Divaldo Suruagy nomeou o jornalista José Osmando Oliveira, então com 38 anos, como o primeiro secretário de Comunicação do Estado. “Em seu discurso, Osmando destacou que a conquista da Secom era de toda a imprensa alagoana, fruto de um esforço coletivo e da visão social do presidente do Sindicato dos Jornalistas, Dênis Agra”, publicou a Gazeta.
“Nosso primeiro desafio era dar caráter profissional à comunicação governamental: criar assessorias setoriais em todas as secretarias e órgãos, integrá-las e promover uma relação com a sociedade baseada em informação plural, democrática e transparente”, relembra José Osmando.
O também ex-secretário Joaldo Cavalcante ressalta que a criação da Secom ocorreu em um momento simbólico da história brasileira: o luto pela morte de Tancredo Neves, primeiro presidente civil eleito após o regime militar. “O surgimento da Secom em meio à transição democrática reforça sua missão institucional de difundir informação de interesse público”, afirma.
Conquistas e avanços
Desde então, 18 secretários passaram pela pasta, cada um contribuindo com os desafios e oportunidades de seu tempo. “Tive o privilégio de participar dessa história, com destaque para a informatização da redação e a criação da Agência Alagoas, que segue ativa como canal oficial de divulgação do Governo”, destaca Joaldo.
Ele também menciona a criação do inédito Conselho Estadual de Comunicação, iniciativa apoiada pelo então governador Ronaldo Lessa para promover o debate democrático sobre políticas públicas de comunicação. “Na mesma época, o recém-criado Instituto Zumbi dos Palmares passou a ser orientado pelo conselho, em uma perspectiva plural”, relembra.
Outra conquista relevante foi a equiparação salarial dos jornalistas do Estado com os padrões praticados pelo mercado, inicialmente viabilizada por Lessa e, mais recentemente, reafirmada pelo governador Paulo Dantas.
Experiência e legado
O jornalista Ênio Lins, um dos 18 ex-secretários da Secom, lembra que a experiência no cargo foi uma das maiores lições de sua carreira. “Assumi num momento em que as redes sociais impunham novos desafios, mas o ápice da minha gestão foi durante a pandemia de Covid-19. A comunicação teve papel decisivo, enfrentando tanto o vírus quanto o negacionismo e a avalanche de fake news”, relata.
Para José Osmando, os desafios atuais ampliam a responsabilidade da comunicação pública. “As redes sociais democratizaram a emissão de informações, mas também abriram caminho para a desinformação, o discurso de ódio e os ataques às instituições democráticas”, alerta.
Joaldo reforça: “Vivemos uma era de excesso de dados e conteúdos sem apuração. Como canta Gilberto Gil, ‘tudo agora mesmo pode estar por um segundo’. Enquanto isso, o Congresso Nacional dorme sobre mais de 150 projetos que tratam da regulação das plataformas digitais”.
Do datilógrafo à inteligência artificial
A jornalista Fábia Assumpção iniciou sua carreira na Secom, em 1991, e relembra a importância dessa vivência: “Foi um aprendizado imenso, em meio a um governo marcado por crises institucionais. Hoje, após doze anos de atuação na Secom, vejo uma comunicação pública mais forte, transparente e conectada com o cidadão”.
Atual secretário de Comunicação, Wendel Palhares destaca que a Secom chega aos 40 anos consolidada como referência nacional. “Cada secretário contribuiu de forma singular para fortalecer a comunicação pública. Uns defenderam a democracia, outros a valorização dos profissionais, outros modernizaram as ferramentas — todos deixaram seu legado.”
Segundo ele, um marco recente foi o lançamento da plataforma Diana, ferramenta pioneira de inteligência artificial voltada à gestão de processos de publicidade governamental. “Com ela, ganhamos agilidade, transparência e tempo para focar no planejamento estratégico e nas ações táticas de comunicação.”
Wendel conclui: “Estamos diante de um novo tempo. A inteligência artificial é uma aliada, mas também temos o desafio de proteger a sociedade de uma comunicação que, quando mal usada, desinforma, adoece e até mata. Nossa missão é garantir que a comunicação pública seja uma ferramenta de cuidado, desenvolvimento e cidadania.”
Secretários de Estado da Comunicação em Alagoas
José Osmando de Oliveira – 1985–1986
Luiz Renato de Paiva Lima – 1986
Noaldo Moreira Dantas – 1986–1987
Cláudio Humberto Rosa e Silva – 1987–1989
José Elias – 1989–1990
Rosivan Wanderley – 1990–1991 / 1994
Edivaldo Júnior – 1991–1994
José Romero Vieira – 1995–1997
Flávio Cavalcante Gomes de Barros – 1997–1998
Joaldo Cavalcante – 1999–2002 / 2003–2006 / 2022–2025
Eduardo Augusto Lobo – 2007
Wilmar Bandeira Soares – 2007–2009
Nelson Guedes Ferreira – 2009–2010
Rui França – 2011–2013
Keylle André Bide – 2013–2014
Guilherme Lamenha – 2014
Ênio Lins – 2015–2018 / 2019–2022
Wendel Palhares – 2025–