28/02/2024 às 15h24min - Atualizada em 28/02/2024 às 15h24min

‘Furando’ a concorrência: os guerreiros da notícia comandados por Luiz Tojal

Rádio surgiu como forte instrumento de política educacional do governo estadual e venceu desafios até seu fortalecimento

Governo de Alagoas
Carlos Nealdo
 

Quando surgiu, a Rádio Educativa FM exibia em sua programação, a cada três músicas executadas, duas notícias fornecidas pela Empresa Brasileira de Notícias (EBN) em nível nacional, além do noticiário jornalístico local, cujo departamento ficou sob a responsabilidade do radialista Luiz Tojal.


Naquela época, fazer jornalismo externo ainda era um desafio para uma emissora de frequência modulada – nesse campo, o rádio AM reinava absoluto. “Além disso, havia a limitação de equipamentos e de transmissão”, lembra o operador de externas na época Edvan Caetano, que fez a primeira transmissão fora de estúdio da emissora, ao lado de Luiz Tojal.


“Antes de se aventurar pela reportagem externa, era preciso pedir uma linha de transmissão à Telasa [Telecomunicações de Alagoas S.A, empresa operadora de telefonia do sistema Telebras no estado]. E isso demorava muito, o que inviabilizava muitas vezes o trabalho”, relembra.


Para ‘burlar’ a burocracia, Edvan Caetano encontrou uma solução relativamente simples: adaptar a maleta de transmissão externa tomada emprestada da Rádio Difusora, a pioneira na radiodifusão em Alagoas e também ligada ao Governo do Estado, a um orelhão – equipamentos públicos de telefonia extintos atualmente.


Foi assim que ele e Luiz Tojal transmitiram o primeiro show de uma orquestra sinfônica que se apresentava a poucos metros de distância da emissora. O ‘método’ voltaria a se repetir muitas vezes depois, com outros repórteres. 

Um deles eras o jornalista Jorge Henrique Martins de Castro, que perdeu as contas de quantas vezes transmitiu, usando o artifício do telefone público, a lista de aprovados nos vestibulares – provas que precederam o Enem – divulgada pela extinta Comissão Permanente do Vestibular (Copeve) da Ufal.

“Muitas vezes a gente ‘furava’ outras emissoras, graças à ‘engenhoca’ do Edvan, não apenas na cobertura dos vestibulares, mas em reportagens políticas”, relembra Jorge Henrique, usando o verbo furar, que no jargão jornalístico significa dar uma notícia primeiro que a concorrência.


Instrumento de educação

“[Em 27 de fevereiro de 1986, dia da inauguração oficial da Educativa FM] Antônio Carlos Magalhães falou da importância da nova emissora para o sistema educacional de Alagoas, reconhecendo o esforço do governo do Estado para elevar o padrão de educação do povo alagoano”, anunciaria na Gazeta de Alagoas, em 28 de fevereiro.
 

Décimo canal do país a integrar o Sistema Nacional de Radiodifusão Educativa (Sinred), segundo o historiador Douglas Apratto Tenório, a Educativa FM de Alagoas é a quarta FM mais antiga do Estado – levando-se em conta a inauguração oficial de 1986.
 


De acordo com o jornalista e historiador alagoano Edberto Ticianeli, antes da Educativa FM, havia apenas a Gazeta FM, fundada em 1º de julho de 1978; Rádio Jornal de Hoje, inaugurada em 8 de setembro de 1979; e Pajuçara FM, lançada em dezembro de 1985.
 

Criado em 1983 pelo governo federal, o Sinred tinha como meta a construção de uma rede de emissoras de caráter cultural e educativo formada por emissoras estatais, educativas, culturais e universitárias. Com a criação do sistema, a produção de programas radiofônicos foi intensificada.


O Sinred funcionou até 1988 e deixou um legado que vai muito além do intercâmbio de conteúdo. Uma das primeiras estudiosas do rádio educativo brasileiro, Margarida Blois, diz que as produções veiculadas pelo sistema eram um retrato vivo da cultura brasileira, sendo levadas via rádio e também via TV aos brasileiros.


Quando assumiu a Secretaria de Educação, Douglas Apratto Tenório tinha como objetivo usar o rádio e a TV para a alfabetização. Foi então que criou o telecolégio, uma ideia pioneira baseada em um projeto de educação criado pelo jornalista e membro da Academia Brasileira de Letras (ABL) Arnaldo Niskier para a extinta TV Manchete.


Niskier havia começado cedo na profissão. Sua primeira experiência de rádio ocorreu aos 18 anos de idade, quando fez a locução, na Rádio MEC, do programa “Juventude Musical Brasileira”. Na Manchete, apresentou o Debate em Manchete, que discutia grandes temas relacionados à educação e política com personalidades renomadas do país.


O desafio era grande. “A dramática situação educacional do Estado, principalmente no que se refere à educação básica, com 152.575 crianças fora da escola, a precariedade da rede escolar, a falta de escolas, de pessoal qualificado e de recursos orçamentários exigiam soluções criativas, profundamente inovadoras e acessíveis aos destinatários”, descreve Apratto no livro Cultura & Educação: o desafio de fazer, publicado em 1985.


“Comprei os programas [educacionais] da TV Manchete e colocamos televisores em todas as salas de uma escola do Cepa, onde os alunos podiam estudar e tirar suas dúvidas, podendo inclusive assistir aos programas em casa, nos fins de semana”, explica.


E o professor justifica sua atitude. “Não é suficiente apenas lamentar, criticar, analisar para os que habitam a torre de marfim do interesse pessoal, do comodismo inútil e da constatação estéril”, diz. “É necessário quebrar os grilhões da apatia e da passividade, frutos da ignorância e da alienação; construir uma sociedade mais homogênea, onde todos participem com seu trabalho crescente e reconhecido socialmente”, finaliza.


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