28/02/2024 às 15h08min - Atualizada em 28/02/2024 às 15h08min

A transformação do Iteal em Instituto Zumbi dos Palmares

Com programas históricos, rádio acompanhou as mudanças nos formatos de gestão sempre oferecendo qualidade ao ouvinte

Governo de Alagoas
Carlos Nealdo
 

Quando foi fundada, em 1986, a Educativa FM pertencia ao Instituto de Tecnologia Educacional de Alagoas (Iteal), órgão vinculado à Secretaria de Educação, que também administrava a TV Educativa. De acordo com o ex-secretário de Estado de Comunicação, Ênio Lins, apenas a Rádio Difusora era ligada à Secom. E, assim seguiu por 13 anos. 

Em 1999, durante o primeiro mandato de Ronaldo Lessa como governador de Alagoas, Ênio Lins foi convidado para presidir o instituto. Na época, ele foi recebido pelo jornalista Flávio Gomes de Barros e pelos radialistas Floracy Cavalcante e Esdras Gomes, titulares do Iteal na gestão de Manoel Gomes de Barros, governador no biênio 1997/1998. “Eu era ouvinte assíduo da Rádio Educativa desde antes, fã com força de programas como as aulas de Jazz ministradas por Juan Maurer e Imanoel Caldas (Jazz Panorama) e da extraordinária revista radiofônica Balançando o Ganzá – concebida, produzida e apresentada pelo saudoso mestre Ranilson França”, relembra.


O jornalista diz que antes de assumir o posto, discutiu com o recém-eleito governador, mas ainda não empossado Ronaldo Lessa, a possibilidade de reunir os veículos de comunicação estadual em um só órgão e sob o comando da Secretaria de Comunicação. Ronaldo Lessa foi quem imaginou a denominação do futuro órgão, que reuniria os três veículos de mídia, como Instituto Zumbi dos Palmares (IZP), em reunião em gabinete, então localizado no primeiro andar do Palácio dos Martírios, na sala onde posteriormente seria instalado o Memorial Pontes de Miranda.

 

Ao fazer o convite a Ênio Lins, ainda antes da posse, Lessa foi claro: “Vamos ver o que pode ser feito sem dinheiro, pelo menos até criar o novo órgão e termos alguma dotação para ele”. A 'ficha' do jornalista caiu quando o então presidente do Iteal passou o comando para ele, apresentando o patrimônio da casa. “Ali estão, naqueles pacotes que chegaram há pouco, uma câmera de TV e uma ilha de edição. Nem abrimos ainda", disse Flávio.


Naquele tempo a situação financeira do Estado era muito delicada, reflexo da grande crise de 1996/1997. "Os velhos equipamentos estavam com problemas de manutenção, e a situação mais precária era a da TV Educativa, cujo sinal nem alcançava a sala da presidência do órgão, localizada praticamente embaixo da antena", relembra Ênio.


Como a TV Educativa não tinha, até então, produção de programas locais, era contraindicado começar algo totalmente novo em condições totalmente velhas. “Mas resolvemos fazer isso mesmo, no peito e na raça, sem verba específica nem outros equipamentos a não ser desencaixotar a câmera e a ilha de edição (novinhas em folha)”, conta.


“Separamos uma sala sem uso num dos prédios, resgatamos uns revestimentos acústicos (daqueles de espuma, tipo caixa de ovos) que haviam sido descartados pela Difusora e iam para o lixo, e a própria equipe do Iteal montou, por conta e risco, um estúdio de TV”. Pode ter sido nessa época que o radialista Edécio Lopes encontrou a placa da fundação da rádio no lixo e tentou devolvê-la ao ex-secretário de Educação, Douglas Apratto Tenório, numa metáfora triste da situação pela qual o instituto passava.


TV Educativa esquecida, rádio ficou de lado

Enquanto a chegada do IZP não era formalizada por lei, o novo titular do Iteal teve que improvisar para melhorar as coisas na TV Educativa, considerando que a Rádio Educativa, mesmo com equipamentos sofríveis, “dava para o gasto”.


“Para a grade radiofônica trouxemos de volta o Jazz Panorama (que havia encerrado as atividades anos antes) e novos programas de MPB foram introduzidos, além do Balançando o Ganzá ser reforçado em sua produção, sempre sob o comando de mestre Ranilson França. “Nó mesmo estava na TV”, lembra Ênio.


O transmissor não tinha força, era máquina antiga, ainda valvulada, e exibia uma impotência crônica. Trocar a válvula era a meia-sola mais viável com investimento baixíssimo, mas muito difícil de realizar, pois nem existia mais no mercado essa peça. Depois de muita procura, descobriu-se uma velha válvula, ainda boa para uso, num ferro-velho no Rio Grande do Sul.


Para encontrar e trazer essa válvula foi uma novela cujos capítulos merecem ser resumidos no último episódio, que consistiu na desmontagem do transmissor pré-histórico para que as válvulas fossem trocadas – a velhíssima foi substituída pela velha. “Van Gassen, o engenheiro responsável pela operação, um galego de pele clara como o sobrenome holandês indica, virou um ser de cor inteiramente cinza, até os cabelos, tamanha a sujeira acumulada pela máquina”, conta o presidente do Iteal.


Apesar de tudo, a TV Educativa, que opera no canal 3, voltou a ter um sinal perceptível para além da própria torre, alcançando umas dezenas de metros a partir da antiga antena elevada sobre o Cepa. Passou a “pegar” inclusive nas salas do próprio Iteal. “Uma conquista memorável com uns dois quilômetros de cobertura, se muito, mas entusiasmante”.
 

O ex-secretário de Comunicação não chegou a comandar o IZP, que foi finalmente instituído em 8 de janeiro de 2001 e inaugurado em outubro do mesmo ano. “Passei a chave para Valquíria Coelho da Paz, ainda como Iteal. Depois dela, o posto passou para o saudoso Marcos Vasconcelos, que finalizou a criação do Instituto Zumbi dos Palmares e deu forma ao modelo contemporâneo que segue no ar, reunindo a TV Educativa, a Rádio Educativa e a Rádio Difusora”, recorda Ênio Lins.

Para ele, isso tem um significado maior, que é dar espaço à intelectualidade alagoana, às canções que retratam um pouco os nossos costumes. “E isso é muito importante, num tempo em que estamos cada vez mais sem fronteira, com a internet. Precisamos estar em algum lugar, e a rádio cumpre esse papel constitucional de regionalização da cultura. Diante disso é que a gente saúda essa luta dos profissionais que fazem parte da Educativa, pela ação cotidiana de todos eles”, finaliza.

 

Para Ronaldo Lessa, atual vice-governador de Alagoas e na época governador, a criação do IZP fortaleceu ainda mais a comunicação das emissoras educativas – rádio e TV – graças aos avanços conquistados tanto no campo da cultura como na valorização dos servidores públicos. “Nesses 38 anos eu quero saudar todos vocês, profissionais que trabalham, informam e têm um compromisso grande com a verdade e com o futuro do nosso estado”, destaca.


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