Zé do Boi, um dos diretores da Liga do Bumba-Meu-Boi, expôs as contradições da Prefeitura de Maceió para com a realização do 30º Festival do Bumba-Meu-Boi, que começa nesta sexta-feira (15), em Maceió. A Secretaria Municipal de Cultura e Economia Criativa (Semce) divulgou que é a organizadora do festival, e a Liga do Bumba-Meu
O evento que já faz parte do calendário cultural de Alagoas ficou ameaçado de não acontecer em 2023, após 29 anos de realização. A Prefeitura de Maceió, através da Secretaria de Cultura do Município, não fez o repasse do patrocínio, que já havia, inclusive, sido explicitado no Diário Oficial.
Foi somente após a aproximação do governo do estado - que reuniu os integrantes da atividade e garantiu o apoio para que o evento fosse realizado, que a prefeitura de Maceió recuou, abriu os cofres e resolveu patrocinar o evento. As duas instâncias de governo deram aproximadamente R$240 mil cada uma para a realização do Festival.
Zé do Boi reclama que apesar do patrocínio - repassado aos 30 grupos culturais que participam da celebração, a prefeitura dificultou a disponibilização do local para que o mesmo fosse realizado e, após o entrave, anunciou o Festival do Bumba-Meu-Boi como se ela fosse a principal realizadora.
“Nós temos que ser justos. Quem está realizando o Festival é a Liga do Bumba-Meu-Boi de Alagoas. O representante do município garantiu que não iria colocar empecilho nenhum porque o estado estaria ajudando”, afirmou Zé do Boi.
Em seguida, porém, ele diz que mesmo com o pagamento para os grupos, faltava ainda a montagem para a estrutura do evento. “Foi um pouco parecido com aquele caso da Parada LGBT”, relembra. A última parada do orgulho LGBT em Maceió passou por uma batalha judicial entre prefeitura e organização para que o evento acontecesse no local previsto, na orla de Maceió.
“A prefeitura falou que só tinha aquele valor e com isso eu não conseguia sequer montar a estrutura. Então nós ficamos para fazer na rua, sem arquibancada, sem nada. O custeio de produção, de montagem de um evento é um valor alto, mas não chega a ser caro para o tamanho da cultura da nossa terra”, afirma Zé do Boi.
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Segundo ele, após muita luta e pressão junto aos entes públicos municipais ligados à cultura, o evento terá início nesta sexta-feira (15) na Praça Multieventos, na Pajuçara. Ao todo, 3000 pessoas participam diretamente dos grupos de boi em Maceió e outras dezenas de milhares de famílias alagoanas são impactadas diretamente com o movimento cultural realizado pelo setor.
Anúncio do município
A Secretaria Municipal de Cultura e Economia Criativa (Semce), divulgou, na quarta-feira (13), via prefeitura de Maceió, que é a responsável pela organização do festival.
O anúncio foi recebido com desconfiança pelas lideranças do grupo Bumba-Meu-Boi. "É o meu dever de vir aqui no grupo e explicar para todos os senhores o que é que está acontecendo para depois não dizer que o pai da criança é fulano, que é beltrano, não, inclusive os senhores sabem que hoje em dia é difícil você juntar a prefeitura e através da cultura", disse Zé do Boi, em um aplicativo de mensagens.
Ele citou, inclusive, matéria do Jornal de Alagoas, em que foi noticiado que o secretário da pasta, Cleber Costa, explicou o não patrocínio devido a falta de orçamento.
Cultura estagnada
"Eu vou torcer muito para que haja um entendimento [entre estado e município], mas independente, todas as vertentes culturais precisam que a prefeitura de Maceió ande lado a lado com a cultura e eu digo isso porque eu discuto com escola de samba, faço as produções do coco de roda, tenho amizade com o pessoal das quadrilhas juninas, todo esse pessoal", argumentou Zé do Boi.
A gente fala por uma boca só, disse Zé: "A cultura em Maceió deu uma estagnada. Ela deu uma parada esse ano"
Em áudio enviado à reportagem, ele clama sobre a valorização do segmento: "Ela é a identidade de um povo. Não façamos disso um jogo de negócios. Façamos da cultura uma coisa respeitada em todas as suas vertentes pelas gestões e, em 2023, ainda não temos isso em Maceió", lamenta.