O Hospital da Mulher (HM), localizado no bairro Poço, em Maceió, completou, nessa sexta-feira (26), um ano do início das primeiras ações no enfrentamento à pandemia do novo coronavírus. Devido à gravidade da Covid-19 e os cuidados intensivos que as pessoas diagnosticadas com a doença precisavam, a prioridade do Governo de Alagoas foi oferecer um lugar adequado para o tratamento e recuperação dos pacientes. A escolha pelo equipamento, construído e entregue pela Secretaria de Estado da Saúde (Sesau) em 29 de setembro de 2019, deu-se pelo fato de ele ter sido recém-inaugurado e, também, por ser um marco na história de Alagoas, visto que foi o primeiro hospital público construído na capital alagoana após quatro décadas.
Mas, para que isso pudesse acontecer, foi preciso fazer uma mudança no perfil assistencial da unidade hospitalar, com base no Plano de Contingência do Estado. Com isso, a unidade ficou destinada, exclusivamente, a atender os pacientes com suspeita e confirmação da Covid-19 e os serviços voltados às gestantes de baixo risco foram transferidos para a antiga Maternidade Nossa Senhora de Fátima, também no bairro Poço. No HM permaneceu, apenas, a assistência às vítimas de violência sexual e às Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgêneros (LGBTs).
A unidade, inclusive, mudou toda a sua diretoria e passou a ter uma médica infectologista no comando. Ao todo, foram disponibilizados 110 leitos, sendo 55 de Unidade de Terapia Intensiva UTI) – 50 adultos e cinco pediátricos -, e 55 leitos clínicos - 50 adultos e cinco pediátricos. Atualmente, a estrutura dispõe de 69 leitos clínicos e 74 de UTI Adulto e 10 de UTI Pediátrica, totalizando agora 153 leitos exclusivos à Covid-19.
Os primeiros meses da pandemia no Brasil foram desafiadores para muitas pessoas e, ainda mais, para os profissionais que estão atuando na linha de frente. O gerente administrativo do HM, Marcelo Casado, lembra que o aumento de casos da Covid-19, em abril do ano passado, fez com que ele e a equipe adequassem toda a estrutura física para atender melhor aos pacientes e a equipe multidisciplinar.
Marcelo Casado conta que, à época em que o hospital foi inaugurado, há, praticamente, um ano e seis meses, só existiam as enfermarias ginecológicas e os Alojamentos Conjuntos (Alcons). Logo, foi preciso transformar os espaços, num curto espaço de tempo, em leitos de UTI para atender aos pacientes em estado grave.
Pensando no bem-estar dos profissionais, foi criado um espaço exclusivo para o descanso deles após a jornada de trabalho. Também foram construídas pias nos corredores próximas às enfermarias para a higienização das mãos. As farmácias satélites foram realocadas, assim como toda a parte elétrica precisou ser trocada para receber os equipamentos de grande porte.
“Readequamos a capacidade de oxigênio medicinal, que passou de um tanque de 200 polegadas para 280. Conforme o vírus ia infectando mais pessoas, tínhamos que dispor de mais leitos. Construímos pias nos corredores e transformamos um espaço utilizado pelas gestantes, em dez leitos clínicos. E, em março deste ano, em virtude do aumento do número de casos de Covid-19 no Estado, aumentamos mais 14 leitos clínicos de enfermaria. Tudo isso para garantir um atendimento humanizado e eficiente”, destacou Marcelo Casado.
Referência – A guerra contra o coronavírus continua, entretanto, após doze meses de luta incessante, o HM acabou se tornando referência pela evolução positiva dos números no enfrentamento à Covid-19. Para ser ter uma ideia, desde o início dos primeiros atendimentos na unidade hospitalar até agora, foram registradas 2.658 entradas e 1.730 altas médicas. O hospital já assistiu pacientes do Amazonas, Bahia, Distrito Federal, Espírito Santo, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Rondônia, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Sergipe e São Paulo, além de um turista da Itália.
O diretor-geral do HM, João Medeiros, lembra que, no início da pandemia, o conhecimento por parte do corpo clínico não era tão vasto, pelo fato de a doença ser nova e os cientistas ainda estarem descobrindo uma série de fatores relacionados a ela. Mas, por meio de um trabalho dedicado, a equipe conseguiu mudar os protocolos, unindo teoria e prática, com um único propósito: salvar vidas.
“Desde o início da mudança do perfil assistencial, estamos trabalhando constantemente para mantermos o corpo clínico qualificado e preparado para prestar o melhor atendimento médico aos pacientes, de modo a oferecer assistência de qualidade, com eficiência e responsabilidade, nessa luta incansável. Gestão hospitalar é um ofício muito difícil de fazer, pois o gestor tem de estar com uma equipe preparada para ajudá-lo. Graças ao trabalho do governador e do secretário de Estado da Saúde, temos alcançado grande êxito na recuperação de nossos pacientes. A luta continua e, com toda a certeza, vamos vencer essa pandemia com paciência, experiência e sempre guiados pela ciência”, avaliou João Medeiros.
No início da pandemia, o isolamento social trouxe muitas lições e mostrou que até mesmo as coisas mais simples como ir ao supermercado, sair com os amigos ou abraçar um ente querido pode fazer com que a maioria das pessoas repensasse sobre os reais valores da vida. Entre as vitórias e as oportunidades de superação extraídas ao longo destes 12 meses de pandemia da Covid-19, a infectologista e gerente médica do HM, Sarah Dominique Dellabianca Araújo Holanda, avalia que se não fosse o equilíbrio emocional, ela não teria conseguido passar pelas duas situações.
“Paciência para esperar a melhora clínica do paciente. Paciência para conversar com a família sobre o estado de saúde desse doente, pois cada núcleo familiar é único e, muitas vezes, acaba não compreendendo a situação. Durante esse tempo, a equipe precisou ter paciência para esperar a complacência do Ministério da Saúde [MS], ao permitir que a visita ao paciente pudesse ser presencial. Apesar de tudo isso, nossos ânimos foram sendo renovados, com processos sendo restabelecidos, implementados e modificados. Buscamos aprimorar as rotinas do hospital, para que a equipe, de alguma maneira, maior ou menor, se reinventasse. Pois, a meu ver, para aguentar um ano de pandemia, com cansaço físico e mental, foi preciso estar aqui, no dia a dia, tendo muita paciência e resiliência para não deixar o colega esmorecer”, refletiu Sarah.
O novo coronavírus e suas novas variantes também trouxeram outros aprendizados. Através da higiene, do acompanhamento populacional, das vacinas e do investimento na ciência, é possível combater o vírus. Dellabianca observou que Alagoas foi um dos estados brasileiros que não entrou em colapso quando comparado a outros locais, cujas taxas de ocupação de leitos de UTI são superiores a 90%.
“Não colapsamos aqui em Alagoas, o que é uma exceção à regra para o SUS [Sistema Único de Saúde]. Inclusive, recebemos, ao longo de um ano, pacientes de Manaus, Fortaleza, São Paulo e estados vizinhos, que estão mostrando um sofrimento muito grande diante dessa situação que o país vem enfrentando. O governador Renan Filho e o secretário de Estado da Saúde, Alexandre Ayres, conseguiram antecipar a situação sob vários aspectos. As decisões têm sido extremamente positivas e assertivas”, avaliou Sarah.
Além de adequar uma nova estrutura física dentro do hospital, a equipe precisou montar, no decorrer de um ano, o Serviço de Controle de Infecção Hospitalar (SCIH), o Núcleo de Segurança do Paciente (NSP), o Núcleo de Comissão de Óbito (NCO), o Núcleo Hospitalar de Epidemiologia (NHE), dentre outros. Desde o seu funcionamento como perfil assistencial para atender pacientes suspeitos ou confirmados da Covid-19, o HM tem atuado na realização de treinamentos de servidores, promoção de webaulas, definição de fluxos, discussões com os profissionais sobre o estado de saúde dos pacientes em reuniões semanais, bem como, ações educativas para os servidores, com vistas ao combate do novo coronavírus.
Atualmente, o HM conta com 1.151 profissionais que atuam diariamente no combate à Covid-19. O quadro é composto por médicos, fisioterapeutas, enfermeiros, técnicos de enfermagem, farmacêuticos, nutricionistas, psicólogos, assistentes sociais, fonoaudiólogos, supervisores, técnicos de laboratório, técnicos de radiologia, biomédicos, maqueiros, motorista, artífices, auxiliares de gases medicinais, técnico de gases medicinais, diretor-geral, histotécnicos, mantenedor predial, assistentes administrativos, contador, auxiliares técnicos de patologia, gerente geral, instrumentador, técnico de eletrônica, coordenador do Centro de Terapia Intensiva (CTI), seguranças, recepcionistas, tecnólogo em sistema biomédico, técnico de segurança e técnico forense.
“Vejo tudo isso que a equipe construiu ao longo desse um ano como maturidade, avanço e um ganho para o Estado. O legado precisa ser mantido, senão, com as mesmas pessoas, porque o nosso foco é processo, e não o profissional. O profissional é quem precisa se adequar ao processo já estabelecido. O meu desejo para o Hospital da Mulher é que o trabalho que vem sendo desenvolvido continue e que os processos sejam cada vez mais aperfeiçoados”, concluiu Sarah Dominique Dellabianca Araújo Holanda.